sexta-feira, 11 de abril de 2014

Biopolítica, medicalização e risco

Ricardo Lopes Ferreira

Atualmente no Brasil tem-se uma política que aparenta ter uma preocupação muito grande com uma questão, sem dúvida importante que é a inclusão social, é possível perceber um movimento pelo qual pessoas portadoras de necessidades especiais: crianças e adultos são integrados, à escola dita “normal” e ao mercado de trabalho através de leis que vão garantir esse acesso a tais pessoas. Essa medida é positiva, entretanto o objetivo não é realizar uma análise dessa questão, mas sim considerar o que pode parecer certo paradoxo em relação a algumas situações com as quais essa política se depara.
Há algumas semanas foi noticiado nos telejornais, rádio, internet e jornais impressos o caso de uma professora do interior de São Paulo que após ser aprovada em concurso público não pôde assumir o cargo pelo fato de ter sido reprovada no exame médico, o que assusta nisso é que o impedimento para assumir o cargo público se deve porque ela, segundo laudo médico baseado em dados da Organização mundial da saúde (OMS), foi caracterizada dentro de um quadro de obesidade mórbida, uma situação realmente difícil de ser entendida, mas o que deve ser ressaltado é que este não é um caso isolado e quando se faz uma pesquisa, que nem precisa ser muito rigorosa ou minuciosa, porque é só procurar na internet que se encontram vários casos semelhantes e um deles chama a atenção, uma mulher foi impedida de assumir um determinado cargo público por um fato ainda mais assustador, o fato de ter tido câncer de mama, ou seja, ela ficou doente e obteve a cura da doença, mas ainda assim só garantiu seu direito por vias jurídicas. É o que acontece em todas essas situações, a pessoa tem que questionar a decisão do Estado através de meios jurídicos.
Todo esse processo é complexo, mas um dos paradoxos que podem ser apontados é que, partindo do que foi o slogan das propagandas do Estado Federal por algum tempo, a saber: “Brasil um país de todos”, pode-se concluir que quando se trata de trabalhar na esfera pública o slogan deveria ser completado com o termo “os saudáveis”. Outro aspecto paradoxo é que essas doenças são motivo de preocupação biopolítica para o Estado, por isso existem mecanismos que tem a finalidade de medicalizar essas doenças, isto é, a medicina se caracteriza por um trabalho que não é apenas curar a doença já estabelecida, mas também agir de forma preventiva para evitar ou amenizar a possibilidade da doença, buscando gerenciar os riscos que podem causá-la.
Para Foucault esse é um dos processos que leva ao que ele chama de “sociedade de normalização” onde a biopolítica que tem como instrumento a medicina elabora uma norma da saúde à qual serão referidos todos os comportamentos e estados de saúde, isso é o que daria origem a esses mecanismos de exclusão que tem como objetivo oferecer proteção a alguns riscos, como exemplo, os casos tomados acima revelam uma racionalidade técnico-burocrática para evitar que o Estado assuma o risco de contratar um trabalhador que esteja doente ou que comporte em si a possibilidade de vir a ficar doente, representando com isso custos, afastamento do trabalho etc., mas isso não é uma atitude específica da esfera pública, na iniciativa privada também ocorre, talvez seja mais fácil a ela esconder o fato? É difícil responder, o importante é considerar que existe uma legislação e leis que em tese, permitem ao setor público não contratar uma pessoa doente. Esse é um problema que mostra uma contradição em relação ao que são alguns dos objetivos dessa política, ou seja, essas leis que protegem o Estado excluem alguns indivíduos, mas e a Política de inclusão social? É importante compreender que essa sociedade visa não correr riscos ou minimizá-los o máximo possível, isso traz consequências.

 Bom pessoal esse texto é o apontamento para uma pesquisa, portanto fiquem à vontade para criticar, comentar e recomendar algumas leituras. Obrigado.

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